Arquivos revolucionários

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Resgate da memória histórica das lutas do proletariado no México (1907-1917)

Apresentação

Realizamos novamente a tradução de alguns números de Regeneración, escritos por Ricardo Flores Magón, bem como de um número de Revolución. Esse compilado foi realizado, novamente, com o objetivo de fazer conhecer mais a obra desse revolucionário. Porém, não o fazemos apenas porque era "anarquista", "comunista" ou mesmo "anarco-comunista", mas sim pela claridade geral expressa nos diversos textos selecionados para problemas que se expressam ainda hoje diante de nós. Reforçamos alguns trechos com o negrito (que não existia em nenhuma parte do texto original) e adicionamos notas através do símbolo [Nota AM (Nota Amanajé)].

Além disso, decidimos por não traduzir algumas notas que foram adicionadas ao texto original pela equipe do Archivo Magón. Fizemos assim pois pensamos que acabam sendo uma "descrição" excessiva, deixamos apenas aquelas que pensamos serem relevantes (as originais em sua completude podem ser verificadas nos links aos documentos originais). 

Por fim, usemos de sua experiência para guiar nossas tarefas.


* * *


Esclarecimentos

Ricardo nasceu em San Antonio Eloxochitlán, Oaxaca, México, em 16 de setembro de 1873. Em 1892, início de sua atividade política, é preso por participar de um movimento operário-estudantil contra a reeleição de Porfirio Díaz, que nesse ano já governava há 16, com uma mão de ferro, o México (direta ou indiretamente). A diretriz econômica de Díaz operava da seguinte maneira, de acordo com Diego Abad de Santillán:

"Porfirio Díaz gozava de certo prestígio no estrangeiro; a imprensa capitalista norte-americana contribuiu com sua fama, em troca dos monstruosos favores que concedeu à burguesia dos EUA; os capitalistas norte-americanos davam a Díaz e seus agentes ações nas companhias comerciais e industriais; Díaz pagava essas liberalidades com vergonhosas concessões e entregando terras e bem que não eram seus. Wall Street possuía cerca de novecentos milhões de dólares investidos no México [...]" (SANTILLÁN, 1925, p. 18.; tradução nossa.)

E assim também a explica Ricardo Flores Magón [RFM]:

"Díaz outorgou grandes concessões aos estrangeiros, especialmente aos americanos. Milhões de acres de terra foram cedidos a poderosas empresas americanas. Fez-se guerra com as tribos indígenas, para que desocupassem suas terras e depois entregaram as mesmas aos americanos; vilarejos inteiros foram encerrados nas cercas de arame das poderosas empresas americanas; os camponeses tiveram que abandonar suas cabanas e suas terras que possuíam desde tempos imemoriais, para deixá-las aos loiros favoritos do Ditador. 
 
O capital não tem coração. 

O sistema de concessões empregado por Porfirio Diaz para atrair as simpatias dos milionários americanos tornou-se uma verdadeira calamidade nacional. Há empresas como a Pearson & Son que receberam a concessão da exploração de fontes de petróleo e outras substâncias em uma extensão de terra mexicana que compreende um oitavo da extensão total do território nacional" (MAGÓN, 1911; tradução nossa).

A atividade de Ricardo não cessou, apesar da intensa repressão porfirista, com Regeneración ganhando vida pela primeira vez em 1900. Devido aos seus periódicos contestatórios do regime vigente, RFM foi preso diversas vezes nos anos seguintes. Em 1901, durante um de seus encarceramentos, seu irmão Enrique (1877-1954) verificou a presença de A Conquista do Pão em sua biblioteca, o que indica já o contato com o pensamento anarquista desde então (MAGÓN, 1925), que vai aumentar, em 1902, através do acesso às obras de Malatesta, Grave, entre outros. 

Contudo, mesmo em contato com as ideias anarquistas e professando-as como suas, os irmãos Flores Magón continuaram a adotar o termo "liberal". Isso pode ser explicado através do contexto mexicano, da escolha dos próprios editores e de uma falta de ruptura com elementos reformistas internos ao partido, conforme denota a explicação de Enrique:

"[Em 1902, na prisão,] Ricardo e eu falamos seriamente sobre a conveniência de propagar os ideais comunistas-anárquicos que já professávamos, concluindo que era inoportuno, dado o meio em que vivíamos, de uma tirania esmagadora, que não nos permitiria ir muito longe; e menos ainda quando no México havia um tremendo preconceito contra o anarquismo. Até mesmo o tépido socialismo de Estado semeava espanto na mente do povo. 
[...] 
Conhecedores do meio em que vivíamos e da psicologia, tradições, preconceitos, atavismos, etc., etc., do povo mexicano, e tendo em mente o antagonismo, ou melhor, o medo do povo naquele momento em relação as ideias avançadas, entendemos, é claro, o quanto teria sido imprudente declarar nossos postulados anarquistas; imprudência que teria resultado em nosso isolamento e em nosso trabalho reduzido a praticamente nada. [...]." (MAGÓN, 1925; tradução nossa.)

Conquanto seja possível fazer críticas a esse tipo de tática, como sua probabilidade de gerar confusão no seio das massas e do próprio partido (uma crítica aproximada já divulgada por nós aqui), é inegável que a repressão estatal de um lado - os escritos dos irmãos Flores Magón foram proibidos em 1903 no México, "sob pena de severas punições a quem os imprimisse e confisco de suas ferramentas" (MAGÓN, 1925; tradução nossa) - e a utilização do termo liberal para uma gama ampla de movimentos contestatórios de outro - "Todas as insatisfações com o despotismo porfirista e de seus lacaios se qualificavam imediatamente de liberais; sob essa denominação existiam no México diversas tendências [...] unidas passageiramente pela oposição à Díaz" (SANTILLÁN, 1925, p. 13; tradução nossa] - conseguem explicar sua adoção. Para mais, provou ser um procedimento certeiro quando emigraram para os EUA (após proibição de seus escritos), onde a perseguição aos anarquistas se encontrava forte após o assassinato do presidente William McKinley e a sanção da Immigration Act of 1903

Conforme demonstra Lopez (2022), isso não implicou um sacrifício na propaganda de ideais revolucionários que podem ser visto em continuidade desde 1907 até o período de real ruptura com o reformismo (entre 1910-1918) e afinal é isso que nos importa. Porém, como o Grupo Comunista Internacionalista também fala, é preciso reconhecer que houve realmente uma ruptura entre esses dois períodos:

"De fato, existe uma revolução conceitual teórico-prática [...] entre os primeiros escritos destes militantes antes de 1910 e a ruptura revolucionária que ocorrerá nesses anos, donde este núcleo deixa de ser a expressão mais à esquerda de um projeto reformista burguês radical para se afirmar como um núcleo revolucionário comunista em total oposição a todo reformismo burguês. Neste artigo de 1907 [NE: "Vamos em direção a vida"] é lógico, portanto, que ainda existem alguns elementos de não-ruptura, como por exemplo quando ele diz "nós somos a plebe que com Juárez[1] apoia a Reforma". Deve-se ressaltar, entretanto, que este mesmo processo de radicalização da "revolução burguesa" até a ruptura revolucionária total é comum a todas as frações de vanguarda do proletariado, desde os militantes agrupados em torno de Babeuf durante a "revolução francesa" até às seções mais radicais dos bolcheviques na Rússia, passando naturalmente pelo núcleo de militantes que, junto com Marx e Engels, passaram da "Liga dos Justos" e outras tentativas mais ou menos radicais à afirmação do programa revolucionário com base no Manifesto Comunista e nas sucessivas afirmações do comunismo nos anos posteriores" (Comunismo, 1997, p.24; tradução e notas nossas).

Como ressaltamos anteriormente, não traduzimos e difundimos seus textos por se dizerem "anarquistas", "comunistas" ou mesmo "anarco-comunistas" (coisa que faziam); da mesma forma, não os desqualificamos imediatamente por nomearem seu partido de "liberal". Antes, procuramos averiguar seus escritos e suas ações e encontramos uma enorme contundência na defesa de posições revolucionárias. Conforme demonstra López (2022), uma das principais características de Ricardo e de outros revolucionários no Partido Liberal Mexicano foi seu apelo constante à unidade internacional do proletariado, o chamado ao apoio internacional dos revolucionários à Revolução Mexicana e seu derrotismo (expresso em seu chamado ao derrotismo do proletariado norte-americano frente a possibilidade de invasão dos EUA no México, bem como mais tarde na Grande Guerra).

"Se tivéssemos nos chamado de anarquistas desde o início, ninguém, exceto alguns poucos, teria nos ouvido. Sem nos chamarmos de anarquistas, temos instilado nos cérebros ideias de ódio contra a classe possuidora e contra a casta governamental. Nenhum partido liberal no mundo tem as tendências anticapitalistas daquele que está prestes a revolucionar no México, e isso foi conquistado sem dizer que somos anarquistas, e não o teríamos conseguido mesmo que não nos tivéssemos chamado de anarquistas, como somos, mas simplesmente de socialistas. É, portanto, tudo uma questão de tática.
Devemos dar a terra ao povo durante a revolução; assim, os pobres não serão enganados depois" (MAGÓN, 1908; tradução nossa). 

 

* * *


Tabela de conteúdos:

  • Vamos em direção à vida;
  • Aos Proletários;
  • O Direito à rebelião;
  • Pregar a paz é um crime;
  • O problema da fome está resolvido?;
  • Os socialistas políticos;
  • Trabalhador.


* * *


Vamos em direção a vida (1907)

Nós revolucionários não buscamos uma quimera: buscamos a realidade. Os povos não se armam mais para impor um deus ou uma religião; os deuses apodrecem nos livros sagrados; as religiões enfraquecem nas sombras da indiferença. O Alcorão, os Vedas, a Bíblia, não brilham mais: em suas folhas amareladas os deuses agonizam, tristes como o sol num crepúsculo de inverno.

Vamos em direção à vida. Ontem o céu foi o objetivo dos povos: agora é a terra. Não há mais mãos para empunhar as lanças dos cavaleiros. A cimitarra de Alá está nas vitrines dos museus. As hordas do deus de Israel tornam-se ateias. O pó dos dogmas desaparece com o sopro dos anos.

Os povos não se rebelam mais por preferirem adorar um deus em vez de outro. As grandes convulsões sociais que tiveram sua gênese nas religiões ficaram petrificadas na história. A Revolução Francesa conquistou o direito de pensar; mas não conquistou o direito de viver, e os homens conscientes de todos os países e raças estão prontos para tomar esse direito.

Todos temos o direito de viver, dizem os pensadores, e esta doutrina humana chegou ao coração da gleba como um forte benfeitor. Viver, para o homem, não significa vegetar. Viver significa ser livre e feliz. Todos nós temos, portanto, direito à liberdade e à felicidade.

A desigualdade social morreu em teoria quando a metafísica morreu por causa da rebeldia do pensamento. Ela deve morrer na prática. É para este fim que todos os homens livres da terra estão dirigindo seus esforços.

É por isso que nós revolucionários não buscamos uma quimera. Não lutamos por abstrações, mas por materialidades. Queremos terra para todos, pão para todos, já que o sangue deve ser necessariamente derramado queremos que as conquistas obtidas beneficiem a todos e não uma determinada casta social.

É por isso que as multidões nos escutam; é por isso que nossa voz chega às massas, as balança e as desperta e, pobres como somos, podemos erguer um povo.

Nós somos a plebe; mas não a plebe dos faraós, murcha e doente; nem os plebeus dos Césares, abjetos e servis; nem a plebe que bate palmas ao passar Porfirio Díaz. Somos a plebe que se rebela contra o jugo; somos a plebe de Espártaco, a plebe que com Munzer[2] proclama a igualdade, a plebe que com Camilo Desmoulins destrói a Bastilha, a plebe que com Hidalgo ateia fogo a Granaditas, somos a plebe que com Juárez apoia a Reforma.

Somos os plebeus que despertam em meio à farra dos fartos e lançam aos quatro ventos como um trovão esta formidável frase: "Todos temos o direito de ser livres e felizes"! E o povo, que já não espera mais que a palavra de Deus gravada nas tábuas desça em algum Sinai, nos escuta. Sob os panos sujos ardem os corações dos fiéis. Nas pocilgas escuras, onde são amontoados e apodrecem aqueles que fabricam a felicidade dos de cima, entra um raio de esperança. Nos sulcos, o peão pensa. No ventre da terra, o mineiro repete a frase para seus companheiros de correntes. Em todos os lugares você ouve o suspiro ansioso daqueles que estão prestes a se rebelar. Na escuridão, mil mãos nervosas acariciam a arma e mil seios impacientes pensam durar séculos os dias que restam antes que este grito de homens seja ouvido: rebelião!

O medo foge do peito: somente os vis o guardam. O medo é um fardo pesado do qual os corajosos se despem, envergonhados de serem animais de carga. Os fardos forçam curvar-se, e os corajosos querem andar em pé. Se algum peso deve ser suportado, que seja um peso digno de titãs; que seja o peso do mundo ou de um universo de responsabilidades.

A submissão! é o grito dos vis; a rebelião! é o grito dos homens. Luzbel [Lúcifer], rebelde, é mais digno do que o lacaio Gabriel, submisso.

Abençoados são os corações onde o protesto se enraíza; indisciplina e rebelião!, lindas flores que não foram devidamente cultivadas.

Os timoratos ficam pálidos de medo e os homens "sérios" ficam chocados ao ouvir nossas palavras; os timoratos e os homens "sérios" de amanhã vão aplaudi-las. Os timoratos e os "sérios" de hoje, que adoram a Cristo, foram os mesmos que ontem o condenaram e crucificaram como um rebelde. Aqueles que hoje erguem estátuas para os gênio, foram aqueles que ontem os perseguiram, os acorrentaram ou os atiraram na fogueira. Aqueles que torturaram Galileu e exigiram sua retratação, hoje o glorificam; aqueles que queimaram vivo Giordano Bruno, hoje o admiram; as mãos que puxaram a corda que enforcou John Brown[3], o generoso defensor dos negros, foram as mesmas mãos que mais tarde quebraram as correntes da escravidão para a guerra de secessão; aqueles que ontem condenaram, excomungaram e degradaram Hidalgo, hoje o veneram; as mãos trêmulas que levaram a cicuta aos lábios de Sócrates, hoje escrevem apologias lacrimosas por este titã do pensamento.

"Todo homem", diz Carlos Malato, "é ao mesmo tempo reacionário de outro homem e revolucionário de outro homem".

Para os reacionários - homens "sérios" de hoje - somos revolucionários; para os revolucionários de amanhã nossas ações terão sido as dos homens "sérios". As ideias da humanidade variam sempre na direção do progresso, e é absurdo fingir que elas são imutáveis como as figuras de plantas e animais impressas nas camadas geológicas.

Mas se os timoratos e os homens "sérios" ficam pálidos de medo e chocados com nossa doutrina, a gleba é encorajada. Os rostos que a miséria e a dor tornaram feios, são transfigurados; as lágrimas não correm mais pelas faces tostadas; os rostos são humanizados, melhor ainda, são divinizados, animados pelo fogo sagrado da rebelião. Que escultor já esculpiu um herói feio? Que pintor já deixou na tela a figura deformada de um herói? Há uma luz misteriosa que envolve os heróis e os torna deslumbrantes. Hidalgo, Juárez, Morelos, Zaragoza, eles deslumbram como sóis. Os gregos colocavam seus heróis entre os semideuses.

Vamos em direção à vida; é por isso que a gleba se encoraja, é por isso que o gigante despertou e é por isso que os bravos não voltam atrás. De seu Olimpo, construído sobre as pedras de Chapultepec, um Júpiter de zarzuela coloca preço nas cabeças daqueles que lutam; suas velhas mãos assinam sentenças de canibais; seus cabelos grisalhos desonrados enrolam-se como os pelos de um lobo atacado de raiva. Desonra da velhice, este velho perverso se agarra à vida com o desespero de um náufrago. Ele tirou a vida de milhares de homens e combate com unhas e dentes a morte para não perder a sua.

Não importa; nós revolucionários seguimos em frente. O abismo não nos detém: a água fica mais bonita quando despenca.

Se morrermos, morreremos como sóis: emitindo luz.


Revolución, n. 10, 3 de agosto de 1907


* * *


Aos proletários (1910)

Trabalhadores, escutem: muito em breve a paz infame que nós mexicanos sofremos há mais de trinta anos será quebrada. A calma do momento contém em potência a insurreição do amanhã. A revolução é a consequência lógica dos mil fatos que constituíram o despotismo que agora vemos em agonia. Ela deve vir infalivelmente, fatalmente, com a pontualidade com que o sol aparece novamente para dissipar a angústia da noite. E são vocês, trabalhadores, que serão a força desta revolução. Serão seus braços que empunharão a arma reivindicadora. Teu será o sangue que tingirá o solo pátrio, como flores vermelhas de fogo. Se alguns olhos vão chorar seu luto e sua viuvez, serão os de suas mães, suas esposas, suas filhas. Vós, então, sereis heróis; sereis a espinha dorsal daquele gigante de mil cabeças chamado insurreição; sereis o músculo da vontade nacional transformada em força.

A revolução deve acontecer irrevogavelmente e, o que é melhor ainda, deve triunfar, ou seja, deve chegar com sangue e fogo à toca onde os chacais que os devoraram nesta longa noite de trinta e quatro anos estão celebrando sua última festa. Mas isso é tudo? Não parece absurdo se sacrificar pelo mero capricho de mudar de amos?

Trabalhadores, meus amigos, escutem: é necessário, é urgente que vocês tragam para revolução que se aproxima a consciência da época; é necessário, é urgente que vocês encarnem na grande luta o espírito do século. Caso contrário, a revolução que assistimos com carinho desdobrar-se não será nada diferente das revoltas quase esquecidas fomentadas pela burguesia e lideradas pelo caudilho militar, nas quais vocês não desempenharam o papel heroico de promotores conscientes, mas sim o papel nada belo de carne de canhão. Saibam isto de uma vez por todas: derramar sangue para levar ao Poder outro bandido para oprimir o povo é um crime, e isso é o que acontecerá se pegarem em armas sem outro objetivo além de derrubar Díaz e colocar em seu lugar um novo governante.

A longa opressão que o povo mexicano sofreu e o desespero que tomou conta de todos como resultado dessa fomentaram na entristecida alma do povo uma única ambição: a de uma mudança nos homens do Governo. Já não se suporta os atuais; são odiados com toda a força de um ódio há tanto tempo comprimido, e a ideia fixa de uma mudança de governantes fez diminuir os ideais; os princípios de salvação foram subordinados ao único desejo de uma mudança na administração pública. Um triste exemplo da veracidade disso pode ser visto no insano entusiasmo, na alegria absurda, com que foi recebida a candidatura de um dos funcionários mais perversos, de um dos verdugos mais cruéis que a nação mexicana já teve: a candidatura de Bernardo Reyes.

Quando essa candidatura foi lançada, o povo mexicano não refletiu sobre a personalidade do candidato. O interessante nele, para o povo, era a mudança. O desespero popular parecia ter se cristalizado nestas palavras: qualquer um, menos Díaz, e como alguém prestes a rolar para um abismo, agarrou a candidatura Reyes como última esperança. Felizmente, se Reyes é ambicioso, ele é ao mesmo tempo covarde o suficiente para fazer frente a Díaz e lutar contra ele. Essa covardia salvou o povo mexicano de sofrer uma tirania mais cruel, uma opressão mais selvagem, se possível, do que a que ele agora lamenta.

A fim de evitar tais infelizes desvios de direção, é necessário refletir. A revolução é iminente: nem o governo nem os oposicionistas serão capazes de detê-la. Um corpo cai sob seu próprio peso, obedecendo às leis da gravidade; uma sociedade revoluciona, obedecendo a leis sociológicas incontestáveis. Pretender opor-se ao estouro da revolução é uma loucura que só pode ser realizada pelo pequeno grupo de interessados em impedir que isso aconteça. E como a revolução deve irromper, sem que ninguém ou qualquer outra coisa a possa conter, é bom, trabalhadores, que vocês retirem deste grande movimento popular todas as vantagens que ele traz em seu seio e que seriam para a burguesia, se, sem conhecer seus direitos como classe produtora da riqueza social, aparecessem na luta simplesmente como uma máquina para matar e destruir, mas sem levar em seus cérebros a ideia clara e precisa de sua emancipação e engrandecimento social.

Tenham em mente, trabalhadores, que vós sois os únicos produtores de riqueza. Casas, palácios, ferrovias, navios, fábricas, campos cultivados, tudo, absolutamente tudo é feito por suas mãos criadoras, e ainda assim lhes falta tudo. Teceis o pano, e andais quase nu; colheis o grão, e apenas tendes uma misera migalha para levar para casa; construís casas e palácios, e habitais em barracas e sótãos; os metais que arrancais da terra servem apenas para tornar seus amos mais poderosos, e, portanto, sua corrente mais pesada e mais dura. Quanto mais produzis, mais pobres e menos livres sois, pela simples razão de que tornais seus mestres mais ricos e mais livres, porque a liberdade política só beneficia os ricos. Portanto, se vais à revolução com o propósito de derrubar o despotismo de Porfirio Díaz, o que sem dúvida alcançareis, pois o triunfo é certo, se tudo for bem após o triunfo, obtereis um governo que porá em vigor a Constituição de 1857, e, com isso, tereis adquirido, pelo menos por escrito, sua liberdade política; mas na prática continuareis sendo tão escravos quanto hoje, e como hoje tereis apenas um direito: o de transbordar de miséria.

A liberdade política exige a coexistência de outra liberdade para ser efetiva: essa liberdade é a econômica. Os ricos gozam de liberdade econômica e é por isso que são os únicos que se beneficiam da liberdade política.

Quando a Junta Organizadora do Partido Liberal Mexicano[4] formulou o Programa promulgado em St. Louis, Mo., em 1º de julho de 1906[5], teve a convicção, convicção que ainda tem, convicção muito firme que preza carinhosamente, de que a liberdade política deve ser acompanhada de liberdade econômica para ser efetiva. É por isso que o Programa estabelece os meios a serem empregados para que o proletariado mexicano possa conquistar sua independência econômica.

Se vocês não trouxerem para a próxima luta a convicção de que são os produtores da riqueza social e que só por esse fato têm o direito não apenas de viver, mas de desfrutar de todo o conforto material e de todos os benefícios morais e intelectuais que seus mestres agora aproveitam exclusivamente, vocês não farão um trabalho revolucionário como sentem seus irmãos nos países mais instruídos. Se não estiverem conscientes de seus direitos como classe produtora, a burguesia aproveitará seu sacrifício, seu sangue e a dor de seu povo, assim como hoje se aproveita de seu trabalho, sua saúde e seu futuro na fábrica, nos campos, na oficina, na mina.

Portanto, trabalhadores, vocês devem perceber que têm mais direitos do que aqueles concedidos pela Constituição de 1857 e, sobretudo, devem estar convencidos de que, pelo simples fato de viver e de fazer parte da humanidade, têm o direito inalienável à felicidade. A felicidade não é patrimônio exclusivo de seus senhores e mestres, mas seu também, e com mais razão de sua parte, pois são vocês que produzem tudo o que torna a vida agradável e confortável.

Agora só me resta exortar vocês a não desanimarem. Vejo em vocês o firme propósito de lançarem-se na revolução para derrubar o mais vergonhoso, o mais odioso despotismo que acometeu a raça mexicana: o de Porfirio Díaz. Sua atitude merece o aplauso de todo homem honesto; mas repito, leve em combate a consciência de que a revolução é feita por vocês, que o movimento é sustentado por seu sangue e que os frutos dessa luta serão seus e de suas famílias, se vocês sustentarem com a firmeza que vem da convicção seu direito de desfrutar de todos os benefícios da civilização.

Proletários: tenham em mente que vocês serão o nervo da revolução; vão a ela, não como gado sendo levado ao abate, mas como homens conscientes de todos os seus direitos. Vão à luta, bata, resolutamente às portas da epopeia; a glória aguarda-os, impaciente por ainda não ter quebrado suas correntes nos crânios de seus verdugos.


Ricardo Flores Magón
Regeneración, n. 1, 3 de setembro de 1910.


* * *


O Direito à Rebelião (1910)

Do alto de sua rocha, o Velho Abutre espreita. Uma clareza perturbadora começa a dissipar as sombras que o crime lançou no horizonte, e na lividez da paisagem a silhueta de um gigante avançando parece ser descoberta: é a Insurreição.

O Velho Abutre mergulha no abismo de sua consciência, vasculha nas lamas do submundo; mas não encontra nada naquela escuridão que explique a razão da rebelião. Então ele se volta para suas memórias; homens, coisas, datas e circunstâncias passam por sua mente como um desfile dantesco: os mártires de Veracruz passam,[6] pálidos, mostrando as feridas em seus corpos recebidas uma noite, à luz de uma lanterna, no pátio de um quartel, por soldados bêbados comandados por um chefe também embriagado de vinho e medo; passam os trabalhadores de El Republicano[7], lívidos, suas humildes roupas e carnes rasgadas pelos sabres e baionetas dos capangas; passam as famílias de Papantla[8], idosos, mulheres, crianças, crivados de balas; passaam os trabalhadores de Cananea, sublimes em seu sacrifício, gotejando sangue[9]; passam os trabalhadores de Río Blanco, magníficos, mostrando as feridas denunciantes do crime oficial[10]; passam os mártires de Juchitán[11], de Velardeña[12], de Monterrey[13], de Acayucan[14], de Tomóchic[15]; passam Ordóñez, Olmos y Contreras, Rivero Echegaray, Martínez, Valadés, Martínez Carrión; Ramírez Terrón, García de la Cadena, Ramón Corona; Ramírez Bonilla, Albertos, Kankum, Leyva e Lugo: passam legiões de espectros, legiões de viúvas, legiões de órfãos, legiões de prisioneiros, e todo o povo passa, nu, anêmico, fraco pela ignorância e fome.

O Velho Abutre alisa com raiva as penas alvoroçadas pelo turbilhão de memórias, sem encontrar nelas a razão da Revolução. Sua consciência de ave de rapina justifica a morte. Existem cadáveres? A vida está assegurada.

É assim que vivem as classes dominantes: do sofrimento e da morte das classes dominadas, e ricos e pobres, oprimidos e déspotas, em virtude dos costumes e preocupações herdadas, consideram este absurdo estado de coisas como natural.

Mas um dia, um dos escravos pega um jornal e o lê: é um jornal libertário. Nele ele vê como o homem rico abusa dos pobres sem outro direito que o de força e astúcia; nele vê como o governo abusa do povo sem outro direito que o de força. O escravo então pensa e acaba concluindo que, hoje como no passado, a força é soberana e, de acordo com seu pensamento, se torna um rebelde. A força não é dominada pela razão: a força é dominada pela força.

O direito à rebelião penetra nas consciências, o descontentamento cresce, o mal-estar torna-se insuportável, o protesto finalmente irrompe e a atmosfera é excitada. Respira-se uma atmosfera forte pelo efluente de rebelião que a satura e o horizonte começa a clarear. Do alto de sua rocha, o Velho Abutre espreita. Das planícies não se elevam murmúrios de queixas, suspiros ou prantos: é um rugido que pode ser ouvido. Ele olha para baixo e estremece: não observa um único dorso: é que o povo se pôs de pé.

Abençoado é o momento em que um povo se levanta. Não é mais o rebanho de costas bronzeadas, não mais a sórdida multidão dos resignados e dos submissos, mas o hoste dos rebeldes que se lançou à conquista da terra enobrecida porque finalmente é pisada por homens.

O direito à rebelião é sagrado porque seu exercício é indispensável para romper os obstáculos que se opõem ao direito de viver. Rebeldia, grita a borboleta ao romper o casulo que a aprisiona; rebeldia, grita o rebento quando rasga a casca dura que o interrompe; rebeldia, grita o grão no sulco quando fende a terra para receber os raios do Sol; rebeldia, grita o terno ser humano quando rasga as entranhas maternas; rebeldia, grita o povo quando se levanta para esmagar tiranos e exploradores.

Rebeldia é a vida; a submissão é a morte. Há rebeldes em um povo? A vida está assegurada, assim como a arte, a ciência e a indústria. Da Prometeu à Kropotkin, os rebeldes têm feito avançar a humanidade.

A rebeldia é o direito supremo nos momentos cruciais. Sem ela, a humanidade ainda estaria perdida naquele crepúsculo distante que a História chama de Idade da Pedra; sem ela, a inteligência humana há muito teria naufragado no lodaçal dos dogmas; sem ela, os povos ainda estariam vivendo ajoelhados diante dos príncipes do direito divino; sem ela, esta bela América continuaria dormindo sob a proteção do misterioso oceano; sem ela, os homens ainda veriam delinear-se os duros contornos daquela afronta humana que chamada Bastilha.

E o Velho Abutre espreita do topo de sua rocha, fixa seu olho sanguinolento no gigante que avança, ainda desconhecendo o motivo da insurreição. O direito à rebelião não é compreendido pelos tiranos.


Ricardo Flores Magón
Regeneración, n. 2, 10 de setembro de 1910.


* * *


Pregar a paz é um crime (1910)

Trêmulo e pálido, olhar inquieto, boca suspensa, um homem abre caminho através da multidão, e tropeçando, arrastando seus pés tal como feitos de chumbo, sobe à tribuna: é o Medo que vai falar. A filosofia das bestas do estábulo é a que ele prega. "A paz é boa, diz; a paz é um grande bem. A vida é doce e gentil, continua; cuidemos, portanto, da vida".

Momentos antes, altivos tribunos haviam sacudido aquela multidão, e o heroísmo, a audácia e ousadia rebelde haviam sacudido aquelas almas, almas proletárias, espíritos taciturnos de derrotas seculares que, ao grito de rebeldia, haviam sentido erguer-se dos recantos mais escondidos de seu ser o anseio dos heróis, a bravura dos corajosos. Um grito a mais, e aqueles escravos teriam se livrado com raiva deste fardo que os curva e os domina mais efetivamente do que a prisão e o cadafalso: o respeito por aqueles de cima. Mas o medo se eleva e fala; suas palavras passam sobre aquelas cabeças como um sopro de inverno; e o entusiasmo morre, o anseio ardente é anestesiado, e aqueles seres humanos, que poderiam ter alcançado o limiar do heroísmo e estavam prestes a passar por seus portões, abrem os olhos espantados e voltam a cair, degradados e submissos, aos pés de seus verdugos, repetindo as malditas palavras: "A paz é boa; a paz é um grande bem".

Esta é a história de todos os esforços humanos em direção à liberdade e felicidade. Com o risco de sua vida e bem-estar, o apóstolo fala. Os escravos se endireitam e escutam. As vívidas palavras do apóstolo caem sobre as almas entristecidas pela dor secular como um bálsamo benfeitor. É um consolo saber que todos nós, pelo simples fato de termos nascido, temos o direito de viver e de ser felizes. Não somos felizes? É porque há alguém que coloca obstáculos no caminho do livre desfrute da felicidade. E assim o apóstolo fala do amo, do frade, do soldado e do governante. Esses pesam sobre os proletários desde que o primeiro ladrão apareceu e disse: "este pedaço de terra é meu", e desde então eles moldaram a inteligência humana à sua vontade, alguns deles amedrontando-a com o medo do inferno, outros aterrorizando-a com o calabouço e a morte. Disso deriva o respeito religioso pelos de cima; respeito pelo frade que embrutece; respeito pelo soldado que assassina; respeito pelo governante que oprime; respeito pelo amo que vive do trabalho dos párias, e este respeito prescrito pelas leis, tão admiravelmente arranjadas que delas só se beneficiam os de cima e se prejudicam os de baixo, oprime a humanidade, torna-a escrava, torna-a miserável porque lhe tira o direito ao livre exame, rouba a prerrogativa de desfrutar de todos os bens com os quais a Natureza nos presenteia, nos tenta com a civilização e torna o homem incapaz de levantar os olhos e de olhar seus opressores cara a cara.

Contra este respeito fala o apóstolo, e suas palavras são injeções de orgulho santo que energizam as multidões. O desejo de ser livre toma conta de todos e o espírito de justiça imortal parece finalmente decidir enraizar-se no coração do homem. Mas o Medo vem e fala; os corações são tomados de terror; os braços mais firmes deixam cair com desânimo as armas libertárias, e dos lábios vis uma a uma as palavras odiosas irrompem: a vida é doce e amável; cuidemos, portanto, da vida.

Bem: pregar a Paz é um crime. Pregar a paz quando o tirano nos desonra impondo sua vontade a nós; quando os ricos nos extorquem até nos converter em seus escravos; quando o governo, a burguesia e o clero matam toda aspiração e toda esperança; pregar a Paz em tais circunstâncias é covarde, é vil, é criminoso. A paz em correntes é uma afronta a ser rejeitada. Há paz no ergástulo, há paz no cemitério, há paz no convento; mas essa paz não é vida; essa paz não enaltece; essa é a paz de Porfirio Díaz, a paz em que o eunuco prospera e se prostitui o cidadão; a paz dos faraós, a paz dos czares, a paz dos césares, a paz dos sátrapas do Oriente. Maldita seja uma paz assim.

Contra tal paz, devemos nos revoltar todos que ainda andamos em pé. A morte em meio à Revolução é mais doce do que a vida em meio à opressão. Liberdade ou morte, deve ser esse nosso grito, e sob seu encanto nos levantemos todos para esmagar, primeiro os covardes que pregam a paz, depois os tiranos.

Primeiro os covardes, pois eles são o suporte mais seguro de todo despotismo e os inimigos mais perigosos de todo progresso. Blasfêmia, gritam os covardes. Sim, abençoada blasfêmia, responde o revolucionário; blasfêmia criadora; blasfêmia vidente; blasfêmia sábia; blasfêmia justa. A blasfêmia colocou suas mãos sobre os altares e tronos da terra e os despedaçou; a blasfêmia subiu ao céu onde outra corte, a celestial, reinava, e a despedaçou com a razão, deixando em seu lugar magníficos sóis cuja composição química nos deu a conhecer; a blasfêmia quebrou o freio com o qual a ignorância manteve a terra fixada a um ponto no espaço e a fez rodar em sua gloriosa elipse ao redor do Sol; a blasfêmia arrancou o relâmpago das mãos de Júpiter e o reduziu à prisão na garrafa de Leyden, e incansável e ousada a blasfêmia, após ter alcançado o céu e derrubado deuses, depois de ter acorrentado as forças cegas da natureza, depois de ter descoberto a farsa do direito divino dos chamados senhores da Terra, depois de ter procurado os mares até encontrar o protoplasma, ou seja, a menor raiz da árvore zoológica cujo fruto mais belo é o homem, se levanta serena, com a augusta serenidade da Ciência, para perguntar ao Capital esta simples pergunta: por que reinas?

Trabalhadores da Revolução: cultivem a irreverência.


Ricardo Flores Magón
Regeneración, n. 3, 17 de setembro de 1910.


* * *


O problema da fome está resolvido? (1911)

Todos devem consultar sua consciência e responder a esta simples pergunta: o problema da fome está resolvido?

Vão responder-me: "Não, o terrível problema continua", e eu acrescento: "É por isso que a Revolução também continua".

Senhores burgueses: a época das revoluções políticas chegou ao fim. Ignorantes com respeito ao quanto sofre o que vocês desdenhosamente chamam de "classe baixa"; ignorantes do inferno em que vive o que vocês tão repugnantemente chamam de "plebe", vocês se lançaram em um empreendimento que agora lamentam ter fomentado.

Acreditando que o povo mexicano de nossos dias é o mesmo povo mexicano de cinquenta anos atrás, ocorreu-lhes fazer uso dele para derrubar Díaz, e com ele o círculo de vampiros chamado Partido Científico, para tomar o lugar dos "científicos" e fazer o mesmo que eles fizeram: monopolizar todos os grandes negócios, comprometer o país com novas dívidas, entregar a riqueza do país a milionários de todas as nacionalidades, submeter os trabalhadores, a ferro e fogo, a aceitar salários de fome, a trabalhar como bestas de carga, a sofrer todas as humilhações, todos os ultrajes, todo o desprezo com que os amos e os capatazes recompensam o sacrifício dos pobres.

Os trabalhadores ajudaram-nos na crença de que seu movimento deveria beneficiá-los, e agora que veem que eles estão em pior situação do que antes do início da campanha; agora que eles percebem que a Autoridade pesa tanto quanto antes; agora que eles veem que o Capital os explora da mesma forma que os explorou sob a ditadura de Porfirio Diaz; agora que eles tiveram uma lição prática da ditadura de Porfirio Diaz; agora que tiveram a lição prática de que os trabalhadores nada ganham com o simples fato de que alguns perversos são derrubados do poder para que outros perversos possam subir, os quais, por estarem com mais fome do que os primeiros, estão ansiosos para encher rapidamente a barriga às custas da ruína de um povo inteiro; agora, em vista de tudo isso, o que você desdenhosamente chama de "plebe", o que você repugnantemente chama de "classe baixa" se agita, desperta e, sem precisar ter tido "organizadores", sem precisar ter lido Marx ou Kropotkin, sem precisar esperar "estarem educados", sem precisar saber ler e escrever, sem precisar dos conselhos egoístas dos falsos amigos da classe trabalhadora que tentam desviar a luta de classe com as frases dos covardes "ainda não é tempo", "é necessária primeiro a organização", "o povo mexicano é analfabeto" e outras do mesmo calibre; agora, a plebe, a classe baixa do México, se levanta imponente e reivindica o direito de sentar ao seu lado, senhores burgueses, para desfrutar também do grande banquete da vida.

Todo o Estado de San Luis Potosí está em guerra industrial e, por contágio, a guerra industrial invade os Estados de Zacatecas, Durango, Chihuahua, Guanajuato, Guerrero, Oaxaca, Veracruz, Puebla, a própria Cidade do México e as cidades do Distrito, assim como os Estados de Tlaxcala e Coahuila. Yucatan está queimando, mas não nas chamas da revolta política, mas nas chamas purificadoras da revolução social.

A própria imprensa burguesa, atônita, começa a repudiar a revolta política que provocou a revolução econômica.

E tudo isso está acontecendo apesar do fato de que os mexicanos "ignorantes" não sabem sobre greves gerais, nem estudaram Marx ou Kropotkin; isso está acontecendo sem a "preparação habitual" da qual os covardes e os malvados falam.

Não se pode negar que as centenas de greves que estão acontecendo atualmente em quase todo o México são de um caráter claramente revolucionário, pois os camaradas grevistas não se contentam em exigir e se submeter às recusas de seus carrascos, a burguesia, mas sim respondem à recusa com a destruição de plantações, casas, haciendas[16], com o desmoronamento das minas, com a destruição dos lugares de exploração e de tirania capitalista, e enfrentam, armados com pedras, lanças e tudo mais que puderem, os cossacos de Madero, o assassino do proletariado mexicano.

Foram necessários séculos de preparação, educação, organização e todas as outras bagatelas recomendadas pelos políticos para realizar este formidável movimento econômico que neste momento está fazendo tremer a burguesia mexicana? Não; foi o instinto de preservação da espécie que erigiu os deserdados do México; foi a fome que fez o leão, que parecia estar dormindo, se levantar.

Que fiquem vermelhos de vergonha os rostos dos políticos adormecidos que, quando ouvem falar de revolução social no México, balançam as cabeças exaustas pelo vinho e pela boa comida, e dizem como Debs e Berger: "Não há revolução econômica no México, nem haverá até que a classe trabalhadora esteja organizada e educada", "abandonemos esses liberais, que não são nada além de bandidos".

Maldição para todos aqueles que neste momento solene da história da humanidade deixam perecer aqueles que lutam pela emancipação econômica do proletariado! Maldição para aqueles que, chamando-se leaders da classe trabalhadora, abandonam aqueles que estão dando ao mundo um exemplo de virilidade que deveria ser recebido com simpatia, se não com aplausos entusiastas, por todos os trabalhadores conscientes do mundo! Maldição para aqueles que estão tentando desvirtuar o movimento do Partido Liberal Mexicano!

Mexicanos: qualquer que seja o destino do Partido Liberal Mexicano, continuem a luta por conta própria. Aqueles que ainda não entraram em greve, que o façam prontamente, a fim de esmagar o Capital o mais rápido possível. Mas não se limitem a destruir os negócios. Façam isso quando verificarem que por falta de armas não se pode sustentar a expropriação. Em qualquer caso, a primeira coisa que deve ser feita é a tomada de posse da fábrica, da oficina, da mina, do campo e o trabalho por conta própria, repartindo os produtos de acordo com as necessidades de cada um. Mas se você não tiver forças para sustentar a expropriação, então a destrua, mesmo que os céus caiam sobre você e sobre nós.

Morte aos ricos! Morte à tirania! Viva Terra e Liberdade!


Ricardo Flores Magón
Regeneración, n. 45, 8 de julho de 1911.


* * *


Os Socialistas Políticos (1912)

Os impostores lhes falam da "necessidade" dos trabalhadores terem representação nas câmaras legislativas, e lhes dizem precisamente neste momento em que os camponeses, com armas em mãos, estão tomando posse da terra; quando os trabalhadores, desapontados com as greves, estão se unindo às forças rebeldes para conquistar sua liberdade econômica; quando os nossos colocam nas mãos dos pobres as provisões armazenadas nas grandes haciendas do Distrito de Río Grande, Estado de Coahuila, e convidam os habitantes dessa vasta região a tomar posse da terra e dos instrumentos de trabalho, ou então invadem as propriedades senhoriais dos latifundiários de Durango e as grandes plantações dos tirânicos exploradores de Comarca Lagunera; quando em toda a extensão do solo mexicano, de mar a mar e de fronteira a fronteira, este grito formidável é ouvido: abaixo a fome!, e este outro: expropriar!

Admirável momento escolhem os enganadores do proletários para pregarem ações políticas aos trabalhadores! Recebemos alguns artigos de jornal da Cidade do México, que vieram à luz sob o pretexto de defender os interesses da classe trabalhadora, sendo o mais estranho na questão o fato de não dizerem sequer uma palavra sobre a guerra de classes que está sendo travada na República Mexicana. Pelo contrário, fingindo ignorá-la porque isso convém aos interesses pessoais de seus editores, que veem com terror que o proletariado mexicano escolheu a violência como um meio de arrancar das mãos da burguesia a riqueza social que possui, tentam adormecer a poderosa energia revolucionária da qual o proletariado está dando boas provas, a fim de transformá-lo em rebanho eleitoral....

Um destes pequenos jornais diz:

"Neste momento nossa burguesia está rindo e zombando do nosso Partido [o chamado Partido Socialista do México].[17] A burguesia alemã também estava rindo há alguns anos, e hoje quando viram como QUATRO MILHÕES de cidadãos socialistas enviaram 110 representantes ao Parlamento, incluindo um do distrito onde vive o Imperador, eles não riem mais, mas se olham angustiados. O que acontecerá nas próximas eleições? Talvez a Revolução Social."

Como se pode ver, o jornalzinho ao qual tenho me referido considera o partido socialista alemão como um partido que pode fazer nada mais nada menos que a Revolução Social, quando na realidade esse partido é reconhecido em todo o mundo inteligente como um partido conservador como qualquer outro partido burguês, e tão inofensivo para a classe capitalista que abundam os ricos encontrados nele. Quanto ao outro pequeno jornal, tem conselhos como este: 

"Se, devido à má fé de alguns industriais e gerentes, se veem (os trabalhadores) obrigados a suspender seu trabalho, é melhor dar suas queixas aos seus respectivos presidentes (presidentes de sindicatos) para que possam lidar com as dificuldades diante das respectivas autoridades".

Não há como pedir maior submissão e maior degradação, e tudo isso é dito quando os proletários levantaram a Bandeira Vermelha e estão lutando como heróis nos campos de batalha! Seria um mal menor se isso fosse dito em tempos de paz; mas mesmo assim não permitiríamos que de forma tão cínica se tentasse aniquilar uma das melhores virtudes do povo mexicano: seu espírito de rebeldia.

Trabalhadores: vocês não precisam nomear parasitas para lhes representar em câmaras legislativas, e precisam menos ainda recorrer às autoridades para que os amparem em suas brigas com o Capital. Àqueles que pedem seus votos para representá-los nas câmaras legislativas, cuspam em seus rostos; àqueles que os aconselham a colocar seu destino nas mãos da Autoridade, deem-lhes uma bofetada nos rostos. No parlamento alemão, dizem vossos enganadores, há 110 deputados socialistas, e que benefício a classe trabalhadora do império alemão recebeu desse grande número de sanguessugas? A miséria é cada vez mais terrível em todo o Império; lá o povo está realmente morrendo de fome; os bairros pobres das grandes cidades são verdadeiras pilhas de trapos e de carne miserável apodrecendo em sua própria sujeira, e, enquanto isso acontece, os representantes socialistas estão tranquilamente recebendo belos salários, tirados precisamente na forma de contribuições desta miséria, desta sujeira, desta dor da classe proletária, e Bebel, o supremo pontífice do socialismo alemão, vive a bela vida gastando suas rendas na presença da nudez e da fome de milhões e milhões de pessoas famintas que estão esperando por um governo socialista para colocar a terra e o maquinário de produção em suas mãos. E essa pobre gente seguirá esperando até que o desespero a leve a pegar em armas para alcançar sua emancipação econômica, política e social pelos meios lógicos: a violência!

Enquanto o trabalhador desdenhar da arma em favor do voto, que não fique espantado de ser um assalariado. Nada; chega de farsas, senhores impostores! Ao seu redor as multidões proletárias estão lutando corajosamente para conquistar Terra e Liberdade, e é estupidez na presença de tal dispêndio de energia, coragem, ousadia e virilidade defender o pacifismo, fazer apologia ao voto e colocar o destino dos deserdados nas mãos de seus verdugos.


Ricardo Flores Magón
Regeneración, n. 79, 2 de março de 1912

* * *


Trabalhador (1917)

Qualquer um que afirma ser seu amigo, mas que astutamente evita dizer-lhe que a solução para todos os seus males reside na expropriação da riqueza social em benefício de todos, é, na realidade, seu inimigo. Cuidado com ele.

Qualquer pessoa que, embora defenda a expropriação, não lhe diga que a única maneira de realizá-la é usando a força armada, porque seus opressores não lhe entregarão de bom grado o que têm nas garras, é seu inimigo, e você deve ficar atento.

Quem diante de sua raiva diz que deve primeiro se educar e se organizar para ser livre, é seu inimigo, porque seus mestres nunca lhe darão um momento de descanso para se educar e destruirão sua organização quando ela se tornar um perigo para as instituições burguesas.

Quem fala com você sobre o uso de meios pacíficos para ganhar sua emancipação, quer na realidade a perpetuação do sistema capitalista, para que ele possa se tornar um oficial de seu sindicato. O funcionário de um sindicato de trabalhadores é o pior inimigo da revolução, porque essa o impede de continuar vivendo do suor do proletariado.

Trabalhador: tome cuidado com estas víboras que infelizmente abundam no campo dos trabalhadores.


Ricardo Flores Magón
Regeneración, n. 256, 21 de abril de 1917.


Notas

[1] Salta-nos aos olhos essa apologia à Benito Juárez, sob o qual a rebelião do Chalco foi esmagada. É de se notar a claridade do programa que dirigia essa rebelião. Ver: Manifiesto a todos los pobres y oprimidos de México y del Universo (1869). [Nota Amanajé]

[2] Thomas Munzer (Stolberg, 1490-Mühlhausen, 1525). Clérigo reformador que gradualmente se radicalizou do luteranismo para o radicalismo revolucionário. Em desacordo com protestantes e católicos, criou uma comunidade cristã em Allsted. Fundou a Liga de los Elegidos. Sua pregação encorajou a chamada Guerra dos Camponeses, que proclamava a necessidade de estabelecer o reino de Deus na Terra e pôr um fim aos tiranos. Após a batalha de Frankenhausen, onde mais de 6.000 rebeldes morreram, foi capturado e decapitado em 27 de maio de 1525. O historiador Ernst Bloch o chamou de Teólogo da Revolução. [Nota AM - Archivo Magón]

[3] John Brown (Torrington, Conn., 1800-Charles Town, West Virginia, 1859). Durante o período pré-Guerra Civil, proclamou a validade da luta armada para exigir a abolição da escravidão e organizou áreas libertas na Virgínia. Em 1859, com 18 seguidores, tomou Harpers Ferry (atual West Virginia) pela força. Foi preso e executado em 2 de dezembro daquele ano. [Nota AM]

[4] O órgão diretor do PLM, responsável pela coordenação das atividades dos grupos políticos afiliados ao Partido no México e nos Estados Unidos. Formalmente constituída em 28 de setembro de 1905, em St. Louis, Mo., a Junta foi inicialmente composta de: Ricardo Flores Magón, presidente; Juan Sarabia, vice-presidente; Antonio I. Villarreal, secretário; Enrique Flores Magón, tesoureiro; Librado Rivera, primeiro delegado; Manuel Sarabia, segundo delegado; Rosalío Bustamante, terceiro delegado. No ano seguinte, Bustamante separou-se da Junta e não era mais signatário do Programa de 1 de julho de 1906. Em 1911, Villarreal e os Sarabias se separaram dela, e no Manifesto de 23 de setembro do mesmo ano deixam de assinar como parte do PLM. [Nota AM]

[5] "Programa del Partido Liberal y Manifiesto a la Nación" [Programa do Partido Liberal e Manifesto à Nação], publicado pela primeira vez no nº11 da 3ª época de Regeneración (St. Louis, Mo.); nele se estabelece a plataforma política do PLM. A maior parte foi escrita por Juan Sarabia, enquanto o manifesto e a declaração de princípios que o precedeu foram escritos por Ricardo Flores Magón. No primeiro número da quarta época de Regeneración (3 de setembro de 1910), foi reproduzida uma versão sintética do Programa, sem o "Manifesto" que o precedeu na publicação original. [Nota AM]

[6] Refere-se à repressão de um grupo de seguidores de Sebastián Lerdo de Tejada acusado de preparar uma conspiração contra o governo porfirista. Por ordem presidencial, através do famoso telegrama "Mátalos en caliente", o governador Luis Mier y Terán ordenou que Vicente Capmany, Francisco Cueto, Luis Alva, Antonio Ituarte, Ramón Albert, Jaime Rodríguez, Lorenzo Portilla, Juan Caro e Antonio Rubalcava fossem fuzilados no quartel militar do porto de Veracruz em 25 de junho de 1879. [Nota AM]

[7] Possível referência ao El Republicano. "Periódico de política, literatura, comércio, indústria, variedades e avisos" (Cidade do México, 1879, dir. José Negrete). Um jornal com afiliação lerdista que empreendeu uma campanha para denunciar a repressão sangrenta do governo contra os lerdistas de Veracruz. [Nota AM]

[8] Refere-se à rebelião indígena ocorrida no cantão de Papantla em junho de 1896. A revolta foi uma resposta à lei de subdivisão da propriedade territorial, que obrigou as aldeias indígenas a dividir suas propriedades comunais. Por ordem do Governador Teodoro Dehesa, o levante foi derrubado militarmente. O líder Francisco Ramírez foi enforcado por ordem do General Rosalino Martínez. [Nota AM]

[9] Refere-se à greve da Cananea, Son., realizada de 1 a 4 de junho de 1906 por trabalhadores da Cananea Consolidated Copper Co. de propriedade de William C. Greene. Promovido pela Unión Liberal Humanidad e pelo Club Liberal de Cananea, devido aos maus tratos aos trabalhadores, baixos salários e discriminação contra os mineiros mexicanos. A greve foi reprimida, a pedido de Greene e do governador Rafael Izábal, pelos rurales mexicanos e os rangers de Arizona. Os principais incentivadores da greve, Manuel M. Dieguez, Esteban Baca Calderon e Francisco Ibarra, foram presos e mais tarde enviados a San Juan de Ulúa. Foram liberados em 1911, após o triunfo da revolução maderista. [Nota AM]

[10] Refere-se à greve do Rio Blanco. Ocorrida nas fábricas têxteis de Río Blanco, Santa Rosa e Nogales, Ver., de 7 a 11 de janeiro de 1907; promovido pelos trabalhadores agrupados em torno do Gran Círculo de Obreros Libres, em resposta às regulamentações impostas pelo Centro Industrial Mexicano, após o fracasso da mediação de Porfirio Diaz na disputa. Os grevistas foram cruelmente reprimidos. Os promotores da greve foram presos e um número desconhecido deles foi submetido a trabalhos forçados em Valle Nacional. Os trabalhos no Río Blanco foram retomados sob vigilância militar. [Nota AM]

[11] Refere-se à rebelião zapoteca liderada pelo líder indígena Mexu Chele em 1881-1882, protestando contra a desapropriação de minas de sal de propriedade comunal, a expropriação de terras, a imposição das autoridades municipais e contra os efeitos da lei hacendaria de 1880. A rebelião foi violentamente reprimida. [Nota AM]

[12] Refere-se à repressão de um motim em Velardeña, Dgo. que ocorreu em abril de 1909. O conflito começou quando os mineiros da American Smelting and Refining Company realizaram uma procissão religiosa para comemorar o primeiro aniversário de um acidente na mina Terreras, no qual muitos trabalhadores perderam suas vidas. A procissão foi interrompida pelo chefe político local, José A. Fabián, e o motim eclodiu. Uma coluna de tropas federais enviadas da capital estadual reprimiu o protesto. [Nota AM]

[13] Refere-se à repressão ordenada por Bernardo Reyes em 2 de abril de 1903 contra uma manifestação contra a reeleição organizada pela Convención Electoral Neoleonesa na Plaza Zaragoza em Monterrey. A polícia disparou sobre os manifestantes a partir dos telhados do Palácio Municipal e de outros edifícios vizinhos. Pelo menos 15 pessoas foram mortas e 25 membros da Convención Electoral foram presos. [Nota AM]

[14] Refere-se à revolta que, em coordenação com a JOPLM [Junta Organizadora do Partido Liberal Mexicano], começou em 30 de setembro de 1906 em Acayucan, Ver. Membros dos clubes Minatitlán, Chinameca e Acayucan participaram da insurreição, liderados por Hilario C. Salas, delegado especial da JOPLM, Enrique Novoa, Román Martín e Cándido Donato Padua. Os rebeldes foram derrotados pelas tropas federais e dispersaram-se nas montanhas de Soteapan. [Nota AM]

[15] Refere-se à rebelião popular que ocorreu em Tomóchic, Chih., entre novembro de 1891 e outubro de 1892, contra o cacicado local e a desapropriação de terras comunais pelas companhias de demarcação. Além desses motivos, os rebeldes praticavam uma religiosidade dissidente. Após várias batalhas, a rebelião foi violentamente reprimida pelo exército federal em 29 de outubro de 1892. [Nota AM]

[16] As haciendas foram um tipo de grande propriedade rural estabelecido nos territórios dominados pela coroa espanhola durante o período colonial, geralmente através da usurpação. Sua produção era um misto de produtos agrícolas e pecuários, geralmente para um mercado regional (fonte: Encyclopedia). [Nota Amanajé]

[17] Partido Socialista do México. Provavelmente uma referência ao Partido Socialista dos Trabalhadores, fundado na Cidade do México em agosto de 1911, por iniciativa de Pablo Zierold, um artesão alemão que vivia no México desde os anos 1880. Seus membros incluídos: Adolfo Santibáñez, Juan Humblot, Emilio V. Rojo, Alberto Galván, Luis Méndez, Enrique Quintanar, Lázaro Gutiérrez de Lara e Zenaido Cárdenas. Seus princípios fundacionais foram inspirados nos do Partido Socialista Espanhol. Alguns de seus membros se separaram em 1912 para juntar-se aos trabalhos do Grupo Anarquista Luz. Manteve laços estreitos com o sindicato dos vidreiros da cervejaria Toluca, onde alguns trabalhadores alemães eram empregados. Seu órgão impresso foi El Socialista, dirigido por Manuel Sarabia. [Nota AM]

Referências Bibliográficas 

GCI (Grupo Comunista Internacionalista). Comunismo. 1997. Disponível em: https://drive.google.com/drive/folders/1mhAaRF1YpBPiaRmQvhoQWqLHfOAZbnMD. Acesso em: 25/05/2022.

LÓPEZ, Marco Antonio Samaniego. Las estrategias de los anarquistas del Partido Liberal Mexicano, 1902-1918: modificaciones en el entorno estadounidense y revolucionario. 2022. Disponível em: https://moderna.historicas.unam.mx/index.php/ehm/article/view/70411/69186. Acesso em: 24 maio 2022.

MAGÓN, Enrique Flores. Aclaraciones a la vida y obra de Ricardo Flores Magón. 1925. Disponível em: http://www.antorcha.net/biblioteca_virtual/politica/discursos/2.html. Acesso em: 24 maio 2022.

MAGÓN, Ricardo Flores. Atila a las puertas de Roma. Taft envía a la frontera mexicana 30100 soldados, mientras 6 barcos marchan a los puertos mexicanos del Golfo y del Pacífico. Los vampiros de las finanzas, las boas consttrictoras de Wall Street abren las fauces y quieren tragarse a México. ¡Libertarios de todo el mundo, salvad a la Revolución mexicana; nuestro problema es el vuestro.. 1911. Disponível em: http://archivomagon.net/obras-completas/art-periodisticos-1900-1918/1911/1911-19/. Acesso em: 25 maio de 2022.

MAGÓN, Ricardo Flores. Carta a Enrique Flores Magón e Práxedis G. Guerrero. 1908. Disponível em: http://archivomagon.net/obras-completas/correspondencia-1899-1922/c-1908/cor265/. Acesso em: 24 maio de 2022.

SANTILLÁN, Diego Abad de. Ricardo Flores Magón, el apóstol de la Revolución mexicana. 1925. Disponível em: https://es.theanarchistlibrary.org/library/diego-abad-de-santillan-ricardo-flores-magon-el-apostol-de-la-revolucion-mexicana. Acesso em: 20 maio 2022.

Nenhum comentário:

Postar um comentário